Sendo colunista, narrador e jogador de poker, quando foi noticiado pela mídia mundial que o ser humano havia sido batido pelo computador Libratus no jogo eu recebi diversas mensagens no WhatsApp.
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Seria ótimo poder falar que foi uma vitória apertada e que numa eventual revanche os profissionais do jogo provavelmente levariam a melhor, mas não foi este o caso. A Inteligência Artificial ganhou de lavada de um time de profissionais excepcionais.
A preocupação óbvia das pessoas que me mandaram mensagem era: “Será o fim do poker? E agora?” Em primeiro lugar é importante dizer que o que ocorreu não é exatamente uma novidade. Já houve dois importantes acontecimentos relacionados a computadores e jogos de habilidade. O mais memorável aconteceu no duelo entre o “Deep Blue” e o enxadrista Gary Kasparov em 1997. Apesar do russo depois ter argumentado que poderia ter jogado melhor contra o computador, essa vitória entrou para a história dos duelos entre homem e máquina. Outra quando um computador masterizou o jogo de “Limit Hold’em”, ou seja, resolveu matematicamente o jogo. A diferença foi que dessa vez o formato foi o “No-limit hold’em”, jogo com muito mais variáveis e muito mais dependente da sensibilidade humana que da matemática pura.
E COMO ISSO MUDA O POKER?
Em primeiro lugar é obvio que o ocorrido não muda em nada o poker ao vivo. A emoção de pegar nas fichas, ver a reação do adversário ao olhar suas cartas e puxar um pote gigantesco continua igual. No poker online pode parecer preocupante a vitória do Libratus mas é importante colocar um ponto relevante – O jogo batido pelo computador representa uma parte muito pequena do que é jogado online: A maioria das pessoas joga “No-limit hold’em” online, mas em mesas com seis ou mais pessoas. Além disso o Libratus leva mais tempo que o permitido pelos sites de poker online para tomar suas decisões, os sites de poker online trabalham incessantemente para evitar o uso de softwares que tomam decisões (softwares de compilação de dados são permitidos na maioria dos sites), e os bons profissionais detectam com rapidez quando há algo de errado no poker online.
Vale também dizer que os desafiantes do Libratus jogaram em condições severas, com muitas horas de jogo por dia, poucas pausas e sem o direito de parar quando entravam em “tilt”, algo muito comum no poker entre humanos.
O QUE PODEMOS APRENDER COM O LIBRATUS?
Dados os diferentes estilos de jogo (mais ou menos agressivo, GTO x exploitable play, etc) o computador que bateu os humanos se utilizou muitas vezes de jogadas pouco usuais, como disseram os quatro profissionais em entrevista ao também profissional Doug Polk. A medida em que o jogo foi acontecendo o computador se utilizou de “overbets” (apostas maiores que o pote que são pouco comuns no jogo entre humanos), aumentos fora do padrão antes do “flop” e blefes diferentes dos que os profissionais costumam aplicar.
Agora é hora de com o resultado nas mãos os profissionais tentarem entender porque tais jogadas pouco ortodoxas são tão lucrativas e quais as adaptações são aplicáveis ao nosso jogo. É possível que um dia a inteligência artificial mate o jogo online, mas ainda não estamos tão perto disso. Além disso como concluiu o amigo e excelente profissional Felipe Phil, talvez esse resultado mostre que, como em diversas áreas da vida, o poker é um jogo de quem erra menos e não de quem acerta mais.
